Hydropotes inermis

Como ler uma infocaixa de taxonomiaVeado-d'água-chinês; Hidrópote

Estado de conservação
Espécie vulnerável
Vulnerável
Classificação científica
Reino: Animal
Filo: Cordados
Classe: Mamíferos
Ordem: Artiodáctilos
Família: Cervídeos
Subfamília: Hidropotíneos
Género: Hydropotes
Espécie: H. inermis
Nome binomial
Hydropotes inermis
(Swinhoe, 1870) [1]

O Hydropotes inermis, comummente conhecido como hidrópote[2] ou veado-d'água-chinês[3], é um pequeno veado asiático, natural da China e da Coreia, que se destaca dos demais veados porque o macho dispõe de presas superiores compridas e recurvas e porque, tal como as fêmeas, não tem chifres.

Etimologia

Do que toca ao nome genérico, Hydropotes, este termo provém do grego antigo, que signfica «bebedor de água»[2], resultando da aglutinação dos étimos ὕδωρ (hydro), que significa «água»[4], e ποτής (potḗs), que significa «beber»[5]. Este nome existe em alusão à preferência deste animal por habitats higrófilos.[2]

Quanto ao epíteto específico, inermis, vem do latim e significa «indefeso; sem armas»[6], em alusão à falta de hastes característica desta espécie de veado.

Distribuição

O veado-d'água-chinês é natural da região da bacia do Baixo Rio Amarelo, no Leste-central da China, e da Coreia.[7] Esta espécie foi introduzida no Reino Unido e na França, onde se assilvestrou.[7][8]

Habitat

O veado-d'água-chinês tanto pode viver em zonas pantanosas, como em pradarias relvosas.[7] Com efeito, privilegia os territórios junto aos canaviais e às junqueiras das orlas fluviais, bem como os prados de ervas altas junto às montanhas e ainda as courelas agricultadas.[8]

Trata-se de uma espécie fugidia, com boa aptidão para se acaçapar entre a vegetação, pelo que tendem a assentar em espaços que lhe ofereçam refúgios naturais, onde se possam esconder.[9] [10]

Descrição

Os veados-d'água-chineses são relativamente pequenos, medindo entre 77 centímetros e meio a um metro de comprimento.[11] São rabicurtos, ostentando caudas que rondam os 6 a 7 centímetros e meio de comprimento.[8]

Têm uma pelagem de tonalidade castanho-clara, de tacto crespo e ralo, sendo que os pêlos mais compridos se encontram junto ao flanco e aos quadris, especialmente durante o Inverno, altura em que podem medir até 4 centímetros de comprimento.[7] Têm um focinho acinzentado, com matizes castanhos-avermelhados, com orlas esbranquiçadas a circundar os olhos e o nariz.[10] O queixo e o pescoço também exibem uma coloração alvadia, ao passo que o cachaço, por seu turno, exibe uma tonalidade trigueira de castanho-dourado.[11]

O ventre, para contraste, também é de coloração esbranquiçada.[8]

Ambos os sexos são desprovidos de hastes, sendo certo que, em contrapartida, contam com um par de caninos superiores especialmente desenvolvidos.[7] Com efeito, estas presas, à guisa de dentes-de-sabre, são sobremaneira evidentes nos machos, podendo medir até 5,2 centímetros de comprimento, ultrapassando-lhes o queixo.[10] Os machos chegam a valer-se destes colmilhos, na época de acasalamento, quando competem uns com os outros.[12] Sendo que podem sair gravemente feridos dessas lutas que travam entre si.[12]

Quanto às fêmeas, por seu turno, as dimensões dos colmilhos são mais reduzidas, ostentando cerca de 5 milímetros de comprimento.[11] Ambos os sexos contam, ainda, com uma mancha negra de cada lado do lábio inferior, sob os caninos superiores, que os põe em maior evidência.[11]

Esta espécie dispõe, ainda de uma glândula odorífera de pequenas dimensões, perto dos olhos.[8] Esta característica, aliada à ausência de hastes nos machos e os caninos especialmente desenvolvidos, fazem sobressair os veados-d'água-chineses, dentre o rol dos cervídeos.[8]

Os veados-d'água-chineses adultos podem pesar entre 12 a 18.5 kg, sendo que, em média, pesam cerca de 13 kg.[10]

Reprodução

Os veados-d'água-chineses acasalam sazonalmente.[9] Em território chinês, a época de acasalamento costuma ocorrer entre Novembro e Janeiro, pelo que as ninhadas costumam aparecer por volta de finais de Maio e princípios a meados de Junho.[13] Contudo, é comum ver-se a época de acasalamento já desde o início de Maio, quando se encontram no cativeiro.[14]

O período de gestação ronda entre 170 a 210 dias, sendo que as fêmeas, em estado selvagem, se estima que são capazes de parir ninhadas de até 8 filhotes, o que é uma característica que as distingue notavelmente das demais fêmeas das outras espécies de cervídeos[11]. Sem embargo, em cativeiro, não há relatos de ninhadas tão numerosas, geralmente resumindo-se a dois ou três filhotes. [8]

Depois da gestação e do parto, a fêmea tende a afastar-se do seu território habitual. [7]As crias permanecem escondidas, durante as primeiras semanas de vida, só emergindo quando a mãe aparece para as aleitar.[9] À guisa de outros cervídeos, os cervatos de veado-d'água-chinês têm uma pelagem, dotada de padrões com ocelos e riscos longitudinais, que as ajudam a camuflar-se.[15] Com a idade, estes padrões tendem a esmaecer até desaparecerem de todo.[16] A aleitação dura vários meses, ocupando as fêmeas até ao desmame.[15] Por contraponto, os machos não cuidam das crias.[10]

Dieta

O veado-d'água-chinês alimenta-se de ervas, juncos e raízes.[11] Dispõe de um sistema digestivo ruminante, composto por quatro compartimentos estomacais.[7] No entanto, o primeiro desses compartimentos, a pança, encontra-se subdesenvolvido, o que, depois, se traduz em maiores dificuldades na digestão de hidratos de carbono de origem vegetal.[16] Por conseguinte, o veado-d'água-chinês tende a privilegiar uma dieta à base de vegetais com pouca fibra e com alto teor de hidratos de carbono solúveis.[14] Dessarte, o veado-d'água-chinês é muito selectivo ao comer, preferindo as ervas e os rebentos ainda tenros e preterindo a vegetação mais adulta e ressequida.[15]

Comportamento

Veado-d'água-chinês (Hydropotes inermis inermis) no jardim zoológico de Whipsnade.

O veado-d'água-chinês não é uma espécie particularmente gregária, pelo que geralmente não se costuma agrupar em manadas.[8] Normalmente, quando muito, pode encontrar-se em aos pares, sendo certo que o mais comum é ser solitário.[9]

Pouco dado a bulícios, o veado-d'água-chinês tende a passar despercebido, oculto sob a vegetação, resguardado dos predadores.[7] Os machos, com efeito, raramente toleram a presença de outros indivíduos do mesmo sexo, nas imediações do seu território, defendendo-o ciosamente contra quaisquer rivais que se lhe apresentem.[11] Por outro lado, já costumam tolerar melhor a presença de uma ou duas fêmeas, dentro do seu território[11]. Não é incomum as fêmeas acompanharem os machos, na busca de alimento ou permanecerem dentro do território de determinado macho.[11]

Quando se defrontam em combate, os machos ladeiam-se, com as cabeças ao nível dos ombros, cabeceando um contra o outro, de feição a ferir o adversário no cachaço ou nos ombros com os seus caninos de grandes dimensões.[15] Amiúde ferem-se gravemente, especialmente quando os combates ocorrem durante a época de acasalamento. Quando um adversário é derrotado, o vencedor escorraça-o para fora do seu território.[15]

Embora não sejam uma espécie particularmente social, os veados-d'água-chineses costumam alertar-se uns aos outros, da aproximação do perigo, por meio de bramidos curtos e estridentes.[10] O veado-d'água-chinês é capaz de nadar vários quilómetros, podem fazer várias travessias por entre as margens rios e ínsuas, em busca de comida ou refúgio.[10]

Os veados-d'água-chineses marcam o território roçando a cabeça contra os troncos de árvores, por molde a sinalizá-las com o seu almíscar.[10] Também deixam sinais odoríferos, no chão, por via das glândulas interdigitais dos cascos e de depósitos de excrementos.[7]

Têm uma esperança de vida média que ronda os 12 anos, tanto em cativeiro[17], como em estado selvagem, sendo certo que costumam viver sensivelmente mais tempo em estado selvagem.[15]

Referências

  1. Harris, R. B. & Duckworth (17 de novembro de 2014). «IUCN Red List of Threatened Species: Hydropotes inermis». IUCN Red List of Threatened Species. Consultado em 7 de dezembro de 2021 
  2. a b c Infopédia. «hidrópote | Definição ou significado de hidrópote no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 7 de dezembro de 2021 
  3. Infopédia. «veado-d'água-chinês | Definição ou significado de veado-d'água-chinês no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 7 de dezembro de 2021 
  4. Bailly, Anatole (1981). Abrégé du dictionnaire grec français. Paris: Hachette. ISBN 2010035283. OCLC 461974285 
  5. Bailly, Anatole. «Greek-french dictionary online». www.tabularium.be. Consultado em 31 de Dezembro de 2017 
  6. «Inermis - ONLINE LATIN DICTIONARY - Latin - English». www.online-latin-dictionary.com. Consultado em 7 de dezembro de 2021 
  7. a b c d e f g h i Allen, Glover M.; Expeditions (1921-1930), Central Asiatic (1938). The mammals of China and Mongolia. New York, USA: American Museum of Natural History,. 620 páginas. OCLC 766997. doi:10.5962/bhl.title.12195 
  8. a b c d e f g h Grzimek, Bernhard (1990). Grzimek's encyclopedia of mammals, vol. 5 (em English). New York, USA: McGraw-Hill Publishing Company. 643 páginas. ASIN B00CKBRRJO. ISBN 9780079095084. OCLC 20014856  !CS1 manut: Língua não reconhecida (link)
  9. a b c d Wilson, D.E. (1 de fevereiro de 1994). «MAMMAL SPECIES OF THE WORLD: A TAXONOMIC AND GEOGRAPHIC REFERENCE». Smithsonian Institution Press. Journal of Mammalogy. 75 (1): 236–239. ISBN 1-56098-217-9. doi:10.2307/1382262 
  10. a b c d e f g h Brown, R. E. (1992). 1991. The Biology of Deer. Berlin, Deustchland: Springer-Verlag. 596 páginas. ISBN 978-1-4612-2782-3 
  11. a b c d e f g h i Nowak, Ronald M. (1991). Walker's Mammals of the World; Fifth Edition - Volume I & Volume II (em English) 5th edition ed. Baltimore, Maryland, USA: Johns Hopkins Press. pp. 643–1629. ISBN 0-8018-3970-X  !CS1 manut: Língua não reconhecida (link)
  12. a b «Hydropotes inermis - Chinese Water Deer (Species)». wildlife1.wildlifeinformation.org. Consultado em 18 de novembro de 2010. Arquivado do original em 23 de julho de 2011 
  13. Ohtaish, N. (1993). Deer of China: biology and management : Proceedings of the international symposium on deer of China held in Shangai, China, 21-23 November 1992 (em English). Amsterdam: Elsevier. 418 páginas. OCLC 875495933  !CS1 manut: Língua não reconhecida (link)
  14. a b Putnam, Rory (1989). The Natural History of Deer (The Natural History of Mammals). Ithaca, New York, USA: Comstock Publishing Associates. 224 páginas. ISBN 0801422833 
  15. a b c d e f Katopodes, Demetra. «Hydropotes inermis (Chinese water deer)». Animal Diversity Web (em inglês). Consultado em 7 de dezembro de 2021 
  16. a b Macdonald, David W (1984). The Encyclopedia of mammals (em English). New York, USA: Facts on File. 895 páginas. OCLC 10403800  !CS1 manut: Língua não reconhecida (link)
  17. Jones, M.L. (2005). Longevity of mammals in captivity; from the Living Collections of the world - A list of mammalian longevity in captivity. Senckenberg: Kleine Senckenberg-Reihe. p. 113-128. 214 páginas. ISBN 978-3-510-61379-3 
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